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sábado, 4 de maio de 2013
PORQUE D'ALESSANDRO É O NOVO COMANDANTE DO VESTIÁRIO DO INTER
D'Alessandro tenta convencer de que seis temporadas no Beira-Rio não foram capazes de transformá-lo. Terá de desculpar o repórter por não concordar com a afirmação e, em seguida, enumerar uma série de fatores que comprovam que ele está diferente.
Esqueça a perna esquerda refinada do argentino de 32 anos, o passe final que surpreende ou os gols que já calaram rivais e incendiaram o Beira-Rio. A mudança se dá além das quatro linhas, quando a referência técnica característica dos que vestem a camisa 10 dá lugar ao companheirismo e liderança em um vestiário recheado de estrelas.
A trajetória de liderança de D'Alessandro em Porto Alegre foi trilhada ao lado de Bolívar, Guiñazu, Índio, Kleber e Tinga. Chegou em 2008, quieto, observador. Fez amizade com os novos companheiros, mas identificou-se com os que já tinham uma história no clube.
O Inter já detinha os títulos da América e do Mundo e vivia um novo momento da história quase centenária. Dois anos antes, quando atuava no Zaragoza, da Espanha, D'Alessandro havia lido a respeito do time que derrotou o Barcelona em Yokohama. Surpreendeu-se ao receber um dirigente deste mesmo time em um hotel da Argentina.
— Foi o (Fernando) Carvalho que me ensinou o que significava o Inter antes de eu chegar aqui. Me ensinou muita coisa sobre o clube, a cidade. Foi quem me indicou como eu tinha de ser aqui. Com os conselhos dele me dei muito bem — recorda o camisa 10.
D'Alessandro buscou entender o Inter e Porto Alegre. Conversava com os funcionários do clube a respeito dos companheiros e dos dirigentes. Teve de se adaptar ao estilo do futebol brasileiro. Passou a ter cuidado com as explosões em campo típicas do temperamento argentino.
Apesar de não seguir uma cartilha de bom comportamento, situações como a da final da Copa do Brasil de 2009, quando chamou o zagueiro William para a briga na final contra o Corinthians, são (ou tentam ser) parte do passado. A braçadeira de capitão herdada por Dorival Júnior desde a Libertadores de 2012 não permite mais tais ações.
Até mesmo as entrevistas após as partidas e a relação com a imprensa mudaram. D'Alessandro passava reto pelos repórteres e ignorava a necessidade de falar sobre a partida. Hoje, assume a responsabilidade em meio a vitórias e derrotas ou momentos de crise como no final do ano passado após o ex-técnico Fernandão descrever o grupo "na zona de conforto".
— O jornalismo aqui é diferente. Só tem dois times. Sem desmerecer o interior, mas isso é só no Gauchão. Depois (no Brasileirão) muda, centraliza no Grêmio e no Inter. Perdão, Inter e Grêmio: o maior sempre na frente — brinca D'Alessandro.
— Fui aprendendo a me segurar, entender a crítica. Eu faço um trabalho que é visto por um monte de gente e esse monte de gente trabalha para fazer uma crítica sobre meu trabalho. Vai ter gente que gosta, vai ter gente que não — aponta o argentino.
O próximo passo do aprendizado — e da transformação — de D'Alessandro será dado perto da aposentadoria. O camisa 10 faz questão de afirmar que nem pensa em pendurar as chuteiras e que ainda tem muito tempo no futebol. No Inter, ao menos, será até 2015, data em que expira o vínculo no Beira-Rio.
— Vou fazer o curso de treinador. Não sei se aqui ou na Argentina. Gostaria de trabalhar aqui no Inter, de ter uma função de manager. Continuar vivendo essa coisa de atleta, mas como manager. Como treinador, tem de mudar a mentalidade. O atleta já passou. Tem de mudar — resume o meia.
D'Alessandro já mudou. E não adianta dizer que não.
FRASES DE D'ALESSANDRO:
"Líder tem de ter grupo, senão, não tem líder. Se você está sozinho, não é líder de nada. No Inter, por exemplo, não tem apenas um líder, tem vários. Eu aprendi com o Clemer, Índio, Tinga, Kleber, Guiñazu. O líder é um cara respeitado pela maioria, por todos. Não se escolhe ser líder, o grupo indiretamente escolhe."
"Forlán é um líder, cara experiente, não está há muito tempo com a gente. Juan é um líder, também, tem experiência é calmo. É bom ter um líder calmo e outro explosivo. É bom essa diferença de personalidade dentro de um grupo.
"Sou um cara reservado, se tu me trata com respeito, te trato com respeito. Tu vai saber se eu gosto de ti na hora. Não consigo esconder, ser falso. Ou é preto ou é branco."
"Ouvi conselhos de muita gente. O futebol me deu muito, não apenas como atleta, mas como pessoa. Fui novo para a Alemanha, com 22 anos. O futebol força essa fase de amadurecimento. Não tem tempo. Tu chega no lugar, tem de aprender coisas, conhecer. Isso faz parte da personalidade de cada um. Eu enxergo muito. Eu observo."
"Vou voltar daqui 10 anos no clube, vou bater um papo com esses caras... O grupo muda, o dirigente muda, fica a história e aquilo que conquistamos. O carinho que ganhei com o torcedor é algo que não consigo entender ainda, não cai a ficha e nem vai cair quando eu sair do clube."
"Quem chega aqui sabe que se não correr, se não se doar, se pensar individualmente, vai se dar mal. O individual tem de ter, claro, cada um quer suas coisas, mas no final será o grupo que vai se dar bem"
"Eu sei que tinha gente que não me queria aqui no clube, diziam que eu tinha problema, que briguei com treinador. Mas eu não sou rancoroso. Tudo bem para mim.
"Quem contrata é o clube, nenhum atleta contrata jogador. Se o presidente quiser minha opinião, posso dar, mas sempre com limite. Eu conhecia o Forlán, por exemplo, de jogar contra, de ter falado com ele, de ter amigos em comum. Disse: 'Traz o cara, se puder traz o cara'."
"Dunga é um cara muito simples. Tu sabe quando vai te dar bem com uma pessoa. O caminho que ele escolhe é o mesmo que o meu. Me espelho nele pelo caráter que tem e que teve como jogador. Todo grupo precisa de uma firmeza de um cara que saiba tomar decisões, que blinde o vestiário. Roupa suja se lava lá dentro, nunca fora."
FRASES SOBRE D'ALE:
Bolívar, ex-companheiro no Inter
"Eu sempre falei para ele que eu fui para o Inter com 23 anos e já via ele jogar, quando ele era o capitão do River (Plate) na Libertadores _ o que não é pouca coisa. Desde que chegou, sempre teve liderança e personalidade. Ele é um cara que observa, extremamente inteligente. Um cara superacessível. Diziam que era problemático, mas foi totalmente o contrário quando chegou aqui. Conquistou essa liderança naturalmente."
Celso Roth, técnico de D'Ale em 2010
"Ele sabe entender que faz parte de um grupo e que a liderança não é só dele. Liderança sozinha não funciona, tem de ter a companhia de outras lideranças. Ele não tem apenas a liderança técnica, mas o conteúdo dele é muito forte, uma formação consistente. Sem contar a leitura de jogo. Leitura tática todos têm, mas alguns têm o privilégio de ter a leitura de jogo. Ele sabe o que está acontecendo em cada momento da partida. Uma bagagem cultural excelente."
Dorival Júnior, técnico de D'Ale em 2011
"É um jogador que tem uma condição diferenciada dentro do elenco, um cara que serve de exemplo para os jovens. Ele é o que falta na maioria dos clubes: liderança, postura, ética, entrega em treinamentos. Exemplo como pessoa, como homem, como cidadão. Um cara que rodou tanto, ganhou tanto e ainda se entrega deste jeito faz com que os jogadores se vejam em uma espécie de obrigação de seguir aquilo. Sem contar a simplicidade dele, um cara muito profissional."
A TRAJETÓRIA NO BEIRA-RIO
A estreia
Com a camisa 15, estreou em 13 de agosto de 2008, no Gre-Nal válido pela Copa Sul-Americana. Teve atuação discreta.
O primeiro título
Após passar por Grêmio e Boca Juniors, despachou o Estudiantes de Verón, Sánchez e Benítez, e sagrou-se campeão da Copa Sul-Americana de 2008.
Copa do Brasil de 2009
D'Alessandro perdeu a cabeça na final contra o Corinthians e acabou expulso após confusão com o volante Christian. Irritado, partiu para cima de William, punhos cerrados, braços armados chamando o zagueiro para a briga.
A Libertadores de 2010
Melhor ano do meia no Inter. Foi o maestro do título diante do Chivas Guadalajara na final dentro do Beira-Rio. Foi eleito, ainda o melhor jogador da América, eleição do jornal uruguaio El País, uma das mais sérias do continente.
Mundial e o Mazembe
Com atuação comum, acabou derrotado pelo Mazembe na semifinal em Abu Dhabi.
Recopa 2011
Ao lado de Leandro Damião, foi um dos personagens importantes da conquista do bicampeonato da Recopa.
Gauchão 2012
D'Alessandro voltava de uma lesão na coxa esquerda e com apenas 45 minutos em campo mudou o ritmo do Inter na final contra o Caxias, no Beira-Rio
China, lesões e Fernandão
Em janeiro do ano passado, quase deixou o Beira-Rio para atuar no Shanghai Shenhua, da China. As lesões colocaram o jogador no departamento médico em momentos importantes da Libertadores e do Brasileirão. Ao final da temporada, com a relação estremecida com o técnico Fernandão, esbravejou contra as vaias da torcida:
— Eu pulo da barca... não tem problema nenhum. Minha vida não acaba aqui.
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