QUANDO TEVE A IDEIA DE INVENTAR A COR DA PAIXÃO, DEUS INVENTOU O VERMELHO E, COM ESSA COR, PINTOU NOSSOS CORAÇÕES... (da amiga e colorada Rosane)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

D'ALESSANDRO ABRE SUA CASA E SEU CORAÇÃO. CONFIRA AÍ!

Em vez de um D'Alessandro contestador, que gosta de gesticular e reclamar, um Andrés calmo, sentimental, muito apegado à família e às raízes de La Paternal, bairro onde nasceu e foi criado na Argentina. Apaixonado pela avó Beatriz, já falecida e cuja imagem está cravada em sua pele, acima do peito esquerdo, o argentino se mostra uma pessoa muito ligada às pessoas que o cercam - e cercaram - desde a infância até o sucesso alcançado dentro dos campos de futebol.


Lembra o tempo todo da sua terra natal, mas a voz embarga mesmo quando o assunto é a avó:


- Ela era tudo para mim, foi quem me criou. Nem gosto de falar nisso.


Fora de campo, no aconchego de um confortável apartamento no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre, surge um camisa 10 que não tem vergonha de escancarar seus sentimentos. Fala com orgulho da mulher Érika, 30, e dos filhos, Santino, três, e Martina, seis. Não esconde que um dos principais sacrifícios da profissão é ficar longos períodos afastado de casa. O esforço é justificado com o argumento de que o trabalho de hoje garantirá uma vida tranquila no futuro e o tempo exclusivo dedicado ao trio.
O fim da linha como atleta, aliás, já alimenta o pensamento de D'Ale. Não que ele coloque um prazo para se aposentar. Tampouco será em Porto Alegre, a cidade que acolheu tão bem os D'Alessandro. Ele reitera que voltará para a sua Buenos Aires. Mas planeja, quando deixar de vestir calção, meias, caneleiras, chuteiras e camiseta, seguir ligado ao futebol. Mais especificamente a um time: o Inter. El Cabézon não projeta ser um dirigente, como é o eterno capitão do Mundial Fernandão. Na mente do camisa 10, figura o sonho de ser um elo entre o clube e a Argentina. Uma espécie de embaixador colorado no país vizinho. O gringo, aliás, admite que virou um torcedor:
- É muito difícil eu sair do Inter. Hoje, eu sou colorado.



Aos 31 anos, completados neste domingo, o atual capitão da equipe, referência técnica e grande ídolo do clube, fala com emoção e carinho do Inter e da torcida. Admite que será "muito complicado" o dia que tiver de deixar o Beira-Rio. Tempo que, aliás, já esteve próximo, no fim de janeiro, quando recebeu proposta para jogar na China. Mas o esforço da direção, o apelo dos colorados e o desejo da família o fizeram rechaçar os milhões de dólares do Shanghai Shenhua para seguir vestindo o uniforme vermelho e branco.
Hoje, como dono da braçadeira, o articulador se mostra feliz com a nova função que recebeu do técnico Dorival Júnior. Sonha repetir o gesto de Fernandão e Bolívar, em 2006 e 2010, respectivamente, que ergueram a taça da Libertadores.
- Dá para sonhar. Temos grupo para seguir brigando.


Este é Andrés Nicolás D'Alessandro, adaptado a Porto Alegre, que responde quase tudo com um "cara", termo que pegou "não sabe de onde". Em mais de uma hora de entrevista em sua residência, abriu o jogo, acompanhado do inseparável chimarrão argentino e da cadela Bella, uma maltês de cinco meses.


GLOBOESPORTE.COM - Como é o D'Alessandro em casa, com a família?
Eu sou isto aqui. Aqui (a sala) é o meu lugar. Raras vezes saímos para jantar ou vamos visitar amigos. Até o prédio mesmo eu uso pouco. Treino muitas vezes em dois períodos. As crianças estão no colégio quando eu chego em casa. Nossos horários são um pouco incompatíveis. Quem fica mais tempo com eles, por enquanto, é a minha mulher (Érika). Minha profissão não permite muito... O negócio da China... Teve a coisa toda da família. Eles estão sempre em primeiro lugar. É a vida do atleta. Eles sabem que, se tiver uma chance muito grande para a minha família, preciso pensar neles. Trabalho para minha família. Vai ficar tudo para eles, cara.


E quando o treino é só pela parte da manhã?
Aí eu gosto de buscá-los no colégio. Fica melhor para mim. Nem sempre conseguimos, mas tentamos levá-los e pegá-los juntos. A minha filha faz patinação, o meu filho joga futebol, ambos no colégio. Nunca tivemos problemas. Nós os vemos muito contentes. Tivemos referências muito boas, as melhores possíveis, da escola. Os filhos do Guiñazu estudam lá. Falamos muito com ele e a esposa, que já estavam em Porto Alegre. Passaram-nos só coisas boas. Eles gostam muito. Minha filha fala português fluente, perfeito. Ele fala bem, também.


E em casa? Em qual língua vocês conversam?
Ah, cara... Eles ficam com vergonha de falar português com a minha esposa e comigo. Com a mulher que trabalha conosco, eles falam português. Mas eles conseguem mudar na hora com quem falar espanhol ou português. Como falam o dia todo português, é bom também praticarem o espanhol conosco.



O que vocês gostam de fazer em casa?
Jogamos muito PlayStation 3. Eu jogo, cara. Sou viciado. Tenho uma maleta cheia de jogos. Jogo de aventura, de guerra, futebol. Lá em cima (aponta para o segundo andar do apartamento) jogamos Wii, que compramos no ano passado. Há jogos produtivos para o crescimento deles.

E a sua mulher joga também?
Ela só nos xinga (cai na risada). Na verdade, ela gosta de olhar, fica  vendo a gente brincar. Nós três jogamos, ela faz o chimarrão (mais risadas).

Como é quando você sai? Tem muito assédio?
O pessoal sempre me respeitou. Eu paro para bater fotos, se as pessoas pedem. O atleta tem de saber que intimidade é só dentro de casa. Futebol é o meu trabalho, a gente fica conhecido. Quando sai na rua, há o reconhecimento. E isso é muito bom. Alguém pede, mesmo do Grêmio, mas sempre com respeito. Quando estamos jantando, o torcedor espera a gente terminar. Pede com muita educação. Nunca me incomodei com isso, nunca fui insultado.

E o dia a dia do D'Ale quando está na Argentina?
Olha, cara, não posso comparar nada com o meu bairro (La Paternal). É o meu bairro, foi onde nasci. É tudo para mim. Nasci na rua, conheço todos, e todos me conhecem. Eu dividia pizza com meus amigos, fui entregador de pizza. Conheço toda a vizinhança. Lá, eu era o Andressito. E é assim até hoje. Quando chego lá, sigo da mesma forma. Caminho normalmente pelas ruas.


E eles se orgulham de você?
Orgulho, sim, mas tento ser o mesmo cara que era quando criança. O mais importante é que, no meu bairro, quem fala comigo são os mesmos de antes. São os que viajam aqui para Porto Alegre, ficam aqui em casa. Bah! Se eu esquecer de algum... Tem o Cláudio, o Chileno, o Turco, Javier, Diego, Gustavo. Quando estou lá, eles largam tudo para ficar comigo. A gente joga Play, cara. Ficaram viciados. A gente curte o momento, fazemos um churrasquinho, o argentino.


O que Porto Alegre significa para você?
Eu encontrei em Porto Alegre um lugar bom para morar. Há muita gente boa. Acolheram-me bem, e fui muito ajudado. Fico tranquilo porque sei que meus filhos e minha mulher estão bem.



Eles pesaram na decisão para você ficar aqui?
Eu conversei com o Matias (Aldao, empresário de D'Alessandro). Não tinha como recusar uma proposta com valores tão importantes. Era uma equipe que estava contratando jogadores importantes. Levou o Anelka (atacante francês). Eles estão querendo evoluir, pensei isso naquele momento. Mas aconteceram todas aquelas coisas. A reação da torcida. Aquele jogo da torcida pedindo (diante do Once Caldas, pela primeira fase da Libertadores). Você começa a colocar na balança. E teve o Inter. Todo o esforço do Inter. Eles sempre me valorizaram, mas se esforçaram ainda mais para me valorizar. O Fernandão, o (presidente) Giovanni Luigi, as pessoas que trabalham no clube. O (Fernando) Carvalho, mesmo não estando mais no clube... Falei com ele também, né? É muito difícil eu sair do Inter. Quando eu sair do Inter será complicado. Hoje, eu sou colorado.

E aqueles gritos da torcida na frente do seu prédio?
Não tenho palavras para descrever aquilo. São coisas que o dinheiro não compra. Nunca pensei que teria isso. Foi algo diferente, algo que não dá para entender, impressionante. Tenho reconhecimento pelo que fiz no clube. Eu ficar no Inter mexeu com a torcida. Nem tudo é dinheiro na vida (fala com olhos marejados).


Este seu lado sentimental não é muito conhecido.
As pessoas só conhecem o meu lado brabo. As pessoas enxergam o cara que luta, briga e reclama. Mas eu não tenho motivo para deixar de mostrar o carinho que sinto pela minha família. Não tenho vergonha de falar neles, nem de chorar. É coisa de homem chorar. Minha família é tudo. Não tem como não me emocionar.


Você moraria em Porto Alegre após encerrar a carreira?
Não. Eu vou para lá (Buenos Aires). Eu tenho certeza. Não vou dizer que, no futuro, não teria um trabalho em Porto Alegre. Um trabalho para o Inter...


Trabalho para o Inter? Você se vê como um dirigente?
Como um dirigente não, cara. Mas eu gostaria de ajudar. Foi um clube onde me dei muito bem. Eu poderia ser um elo entre a Argentina e o Inter, trazer jogadores. É uma ideia muito louca. Eu ainda sou jogador (cai na risada)... Mas quando se está há muitos anos, o pensamento já começa a mudar.


E o temperamento? Você é mesmo explosivo?
Eu sou assim, cara. O futebol é o meu trabalho. Não posso me comportar daquele jeito em casa. Aqui é tudo tranquilo. Não preciso ganhar dinheiro aqui. No futebol é diferente. Você precisa entrar para vencer, ser melhor que o adversário. São duas coisas diferentes. Eu reclamo no campo. Mas, fora de lá, eu sou tranquilo. O meu caráter, porém, não muda aqui nem dentro do campo. E tenho de passar isso para os meus filhos. Tenho muito orgulho da minha família. Reconheço que não é fácil para a minha mulher. A gente concentra, fica dois, três dias fora. Meus filhos agora até compreendem. Estou mais velho. Está cada vez mais difícil ficar longe deles.



Como você vê a sua relação com o Inter? Você sempre manifesta carinho pelo clube.
Eu sou muito agradecido. Foi um clube que me deu tudo. Não há como não falar do River (Plate, clube pelo qual foi revelado). Era um sacrifício. Passei grande parte da minha vida lá. Não tenho como não esquecer. Mas aqui encontrei um clube que me acolheu muito bem. E, lógico, os resultados ajudam muito. Levantamos muitos títulos, disputamos muitos títulos. São muitas coisas juntas. É difícil conseguir isso. E consegui isso em pouco tempo. O grupo foi muito forte em momentos bem difíceis. O Inter, com certeza, virou um dos clubes mais importantes da minha vida. Eu nunca imaginei que seria campeão da América.
Agora você é o capitão da equipe.
É algo importante. Foi pelo que fiz no clube, pelo sacrifício.

Você imagina levantar a taça da Libertadores como o Fernandão e o Bolívar já fizeram?
Seria um sonho, cara. É o meu próximo sonho. E dá para sonhar. Temos grupo para seguir brigando e realizar uma bela Libertadores.


Por que você vai tão bem nos Gre-Nais?
Não sei. Acho que é um pouco de sorte. Eu também ia bem na Argentina. Mas aqui tem Gre-Nal a cada 24 horas (risos). Há muitos jogos, é bom. É bom ser lembrado na história do clube pelos clássicos. Isso marca muito.


E você gosta de dar uma provocadinha no Grêmio.
Tudo tem limite. É bom brincar. Acho que faz parte. Nos últimos anos, nós nos demos muito bem. Se fosse o contrário, estaríamos muito brabos, querendo jogar a toda hora. Sabemos que é um campeonato à parte. Não é fácil, ainda mais em uma cidade como Porto Alegre. Mas sempre respeitei o rival. Eles sabem disso. Nunca falei mal do Grêmio, nem eles falaram mal de mim.



Ídolo da torcida, campeão da América. O que ainda falta?
O que ficou de gostinho amargo foi o Mundial (em 2010, quando o Inter perdeu por 2 a 0 para o Mazembe, pelas semifinais). As chances de disputar um Mundial são poucas. Você precisa ganhar uma Libertadores, suar. Ralar a bunda no chão.


Você imagina voltar para o Mundial no fim do ano, e como capitão?
Tomara, cara. Sempre acreditamos. Eu vejo  a equipe em um crescimento muito grande. O nosso time é muito bom. Estamos sofrendo com os desfalques, mas temos um grupo muito forte. Estamos sentindo a falta do Oscar.



Ele é o seu companheiro de quarto na concentração. O que vocês conversam sobre a situação pela qual ele está passando (impedido de atuarpelo imbróglio judicial com o São Paulo)?
Ele estava num momento muito bom. Comandando o nosso time, assumindo a posição dele. E agora não pode jogar por culpa de papel. Não posso falar muito. Mas sei que ele quer ficar e ajudar o Inter.


Se amanhã chegar uma proposta e o Inter aceitar, que balanço você faria da sua trajetória no clube?
Bom... Eu não sou ninguém para fazer um balanço. Mas vou sair feliz. Não sei se sairia com a sensação de dever cumprido. O jogador sempre tem de dar mais. Ainda tem um gostinho do Mundial. Acho que a gente poderia ter dado mais naquele jogo.

E o aniversário? Esses 31 anos de vida?
Não posso reclamar de nada. Gostaria de estar com minhas avós, mas a vida é assim...

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